O nosso mentor

António Gonçalves da Silva “Batuíra”

Trabalho, trabalho e mais trabalho
— Batuíra

Nasceu a 26 de Dezembro de 1838, no lugar de Vila Meã, freguesia de S. Tomé do Castelo, concelho de Vila Real, conforme consta do seu registo de nascimento lavrado em 3 de Janeiro de 1839.

Filho de gente humilde, logo que acabou a instrução primária e com o intuito de que viesse a ter uma vida melhor, o pai mandou-o viver com um seu irmão, emigrante no Brasil. Assim, no dia 3 de Janeiro de 1850, com apenas 11 anos de idade, chegou ao Rio de Janeiro, onde viveu durante três anos, mudando-se depois para Campinas (estado de S. Paulo).

Aqui, trabalhou na agricultura durante uns tempos. Por volta de 1856, ainda com 17 anos, foi viver para S. Paulo, onde fixou residência definitivamente. Começou por vender jornais de porta em porta, conquistando a simpatia e a amizade dos fregueses.

Por ser um jovem muito activo, que passava o dia a correr de um lado para o outro, as pessoas passaram a dar-lhe a alcunha de “batuíra” (nome dado popularmente à narceja, uma ave pernalta muito rápida e com voo veloz, que vivia nos pântanos dos arredores da S. Paulo daquela época).

Poucos anos depois, decidiu acrescentar a alcunha ao nome, transformando-a no seu último apelido. Resolvido a mudar de vida, deixou a venda de jornais e começou a fabricar charutos, o que lhe permitiu começar a ter uma vida economicamente mais desafogada.

Racionalizando os lucros e fazendo economias, comprou um terreno na época sem valor, na área de Lavapés, onde construiu a sua casa.

À medida que ia tendo mais dinheiro, foi comprando os terrenos à volta do seu, talvez prevendo a futura valorização dos mesmos. Neles, decidiu construir uma série de casas para alugar às pessoas de poucas posses, abrindo para isso nesses terrenos uma rua particular, a que começaram a chamar “rua do Espírita”. Mais tarde, a Câmara Municipal de São Paulo deu-lhe o nome oficial de “rua Espírita”, nome que ainda hoje perdura.

Batuíra casou duas vezes. A primeira, com D. Brandina Maria de Jesus de quem teve um filho, Joaquim Gonçalves Batuíra, que desencarnou (em 1895) com 35 anos e estando casado.

Tendo enviuvado, voltou a casar com D. Maria das Dores Coutinho e Silva, que lhe deu outro filho, a quem também chamaram Joaquim e que desencarnou em 1883, com 12 anos, aparentemente vítima do tétano provocado pelo espinho de uma roseira.

Dotado de um espírito humanitário e idealista, defendeu com ardor a abolição da escravatura no Brasil, inclusivamente escondendo na sua casa escravos fugitivos, que só deixava sair depois de lhes ter sido dada a Carta de Alforria (documento através do qual o senhor concedia ao escravo a liberdade).

Tendo encontrado a Doutrina Espírita no dia em que desencarnou o seu filho mais novo, Batuíra tornou-se a partir daí um espírita fervoroso vivendo de modo exemplar os ensinamentos cristãos: praticava a caridade, consolava os aflitos, tratava os doentes através da homeopatia e divulgava os princípios espíritas.

A sua casa na rua do Espírita, em Lavapés, era uma mistura de hospital, farmácia, centro espírita, manicómio e orfanato. Ali, a caridade manifestava-se em tudo: o socorro nunca era negado a ninguém, nem ninguém dali saía sem ter sido devidamente amparado. Quem lá chegava tinha sempre cama, mesa e, pelo menos, um cobertor… A pouco e pouco, foi-se desfazendo dos seus bens para ajudar todos os necessitados que o procuravam.

Em 16 de Abril de 1890, fundou o “Grupo Espírita Verdade e Luz”, em cujas instalações “oferece explicações d’ O Evangelho Segundo o Espiritismo” (cf. revista “Reformador”, da Federação Espírita Brasileira, de 15/05/1890). Em 25 de Maio de 1890 lançou o jornal “Verdade e Luz”, através do qual fazia a divulgação dos princípios espíritas.

Em 25 de Dezembro de 1904 inaugurou a “Instituição Cristã Beneficente Verdade e Luz”, que se destinava ao internato e tratamento de obsidiados. Batuíra foi um vivo exemplo do que deve ser a prática do bem. Desencarnou às 0h12m. do dia 22 de Janeiro de 1909 na cidade de S. Paulo, com 70 anos de idade, vítima de doença súbita.

A sua fé inabalável, a grande extensão das suas obras de caridade e, ainda, as suas acções em prol da divulgação da Doutrina Espírita, fizeram dele um grande nome da seara de Jesus, sendo ainda hoje admirado por todos os espíritas.

António Gonçalves da Silva Batuíra foi, sem dúvida, um dos grandes apóstolos do Espiritismo!